Olá, meus queridos alunos, estamos aqui com mais uma atividade literária.
Veremos a seguir, uma das mais trabalhadas obras de Gil Vicente: A Farsa de Inês Pereira, um texto produzido para ser encenado e que, apesar de ter sido escrito há tanto tempo, ainda é capaz de traduzir muito do que vivemos em dias atuais.
Conflitos morais e princípios éticos são colocados à prova neste clássico literário português.
A obra pode ser dividida em cinco partes: a primeira é um retrato da rotina na qual se insere a protagonista; a segunda reflete a situação da mulher na sociedade da época, cujos registros são dados pela mãe de Inês, pela própria Inês e por Lianor Vaz; a terceira mostra o comércio casamenteiro, representado pelos judeus comerciantes e pelo arranjo matrimonial-mercantil de Inês com Brás da Mata; a quarta considera o casamento, o despertar para a realidade, contrapondo-a ao sonho que embalava as fantasias da protagonista e, finalmente, a quinta parte reflete a realidade brutal da qual Inês, experiente e vivida, procura tirar proveito próprio. A peça apresenta uma situação concreta, com uma personagem bem delineada psicologicamente e um fio condutor melhor configurado que as produções anteriores de Gil Vicente.
O enredo é simples: uma jovem sonhadora procura, por meio do casamento com um homem que saiba tocar viola, fugir à rotina doméstica. Despreza a proposta de Pero Marques, filho de um camponês rico, homem tolo e ingênuo, e aceita se casar com Brás da Mata, escudeiro ordinário e pobretão. No entanto, os sonhos da heroína são logo desfeitos, porque o marido revela sua verdadeira personalidade, maltratando-a e explorando-a. Brás da Mata vai para a África e lá vem a falecer. Inês, ensinada pela dura experiência, toma consciência da realidade e aceita se casar com Pero Marques, seu primeiro pretendente. Depressa também a jovem aceita a corte de um falso ermitão. A farsa termina com o marido (cantado por ela como gamo e cervo, tradicionalmente concebidos como símbolos do homem traído) levando-a às costas (asno que me carregue) até a gruta em que vive o ermitão, para um encontro nada ingênuo.
Resumo da obra
Inês Pereira é uma moça bonita e solteira que se vê obrigada a passar o dia em meio às tarefas domésticas. Inês sempre fica se queixando e vê no casamento a chance de se livrar dessa vida. Ela idealiza o noivo como sendo um moço bem educado, cavalheiro, que soubesse cantar e dançar, enfim, que fosse um fidalgo capaz de lhe dar uma vida feliz.
Um dia, Lianor Vaz, a casamenteira, chega na casa de Inês dizendo que havia sido atacada por um clérigo, mas que conseguira escapar. Lianor, porém, foi à casa da moça para relatar que Pero Marques, um rico camponês, quer se casar com Inês. A moça, então, lê a carta que Pero escreveu com suas intenções de casamento, mas ela não se conforma com a rusticidade do moço e concorda em recebê-lo só para rir da cara dele.
Lianor vai então buscar Pero e, enquanto isso, a mãe de Inês a aconselha a receber bem o pretendente. Quando o moço chega, ele se comporta de modo ridículo e demonstra não ter nenhum traquejo social. Vendo-se à sós com Pero, Inês o desencoraja quanto ao casamento e o moço vai embora. Nisso, ela informa à mãe que havia contratado dois judeus casamenteiros para encontrar um noivo que tivesse boas maneiras.
Entra em cena Latão e Vidal, os dois judeus casamenteiros, que vieram oferecer Brás da Mata, um escudeiro. Armado o encontro entre os dois jovens, Brás da Mata planeja ir à casa de Inês acompanhado de seu criado, o Moço, e os dois combinam contar uma série de mentiras para enganar a moça e conseguirem dar o “golpe do baú”. Já na casa de Inês, Brás da Mata age conforme ela queria: a trata de modo distinto com belas palavras, pega a viola e canta. Ele a pede em casamento, mas a mãe diz que a moça não deve fazê-lo, ao que os judeus contra-argumentam elogiando Brás de todas as formas.
Os dois se casam e a mãe presenteia os noivos com a casa. À sós com Brás, Inês começa a cantar de felicidade, mas ele se irrita e manda que ela fique quieta. Brás começa, então, a impor uma série de regras e exige que a moça fique trancada o dia inteiro em casa, proibindo-a até mesmo de olhar pela janela e de ir à missa. Pouco tempo depois, Brás informa ao Moço que partiria para a guerra, ordenando que ele vigiasse Inês e que ela deveria ficar trancada à chaves dentro de casa. Trancada em casa e não fazendo nada além de costurar, Inês lamenta e sua sorte e deseja a morte do marido para que pudesse mudar seu destino.
Passado algum tempo, Moço aparece com uma carta do irmão de Inês onde ele informa que Brás havia morrido covardemente tentando fugir do combate. Feliz, Inês despede Moço, que vai embora lamentando seu azar. Então, sabendo que Inês havia ficado viúva, Lianor Vaz retorna oferecendo novamente Pero Marques como novo marido. Dessa vez Inês aceita e os dois se casam.
Com a ampla liberdade que o marido lhe dava, Inês parecia levar a vida que sempre desejou. Um dia, chega em sua casa um Ermitão a pedir esmola e Inês vai atendê-lo. Porém, este é um falso padre e o deus que ele venerava, na realidade, era o Cupido. Inês reconhece o moço, que havia sido um antigo namorado seu. Ele diz que só havia se tornado ermitão porque ela o havia abandonado e começa a se insinuar para Inês, acariciando-a e pedindo um encontro entre os dois. Ela aceita e os dois marcam um encontro.
No dia marcado, Inês pede a Pero Marques que a levasse à ermida dizendo que era por devoção religiosa. O marido consente e os dois partem de imediato. Para atravessar um rio que havia no meio do caminho, Pero Marques carrega a mulher nas costas e essa vai cantando uma canção alusiva à infidelidade dela ao marido e à mansidão dele. Pero segue cantando o refrão, terminando como um tolo enganado.
Lista de personagens
As personagens do teatro vicentino não têm profundidade psicológica e são tipos ou alegorias, ou seja, são como representações de grupos, instituições ou ideias abstratas. Servem, assim, a uma finalidade moral preconcebida pelo autor. O modo de falar das personagens reproduz a maneira típica com que as camadas sociais e profissões que essas personagens representam falavam.
Inês Pereira: moça bonita e solteira, que para se livrar dos afazeres domésticos sonhava em se casar com um fidalgo.
Mãe: típica dona de casa preocupada com a educação e o futuro da filha.
Lianor Vaz: casamenteira que só respeita a opinião pública quando lhe convém.
Latão e Vidal: caricaturas do judeu espertalhão e hábil no comércio.
Pero Marques: camponês rico, porém, ignorante e sem nenhum traquejo social.
Brás da Mata (Escudeiro): escudeiro pobre que mal tinha dinheiro para se sustentar.
Moço (Fernando): criado de Brás da Mata, é humilde e se deixa explorar pelo patrão, sempre acreditando nas mentiras que ele conta.
Ermitão: falso monge que declara ter se tornado ermitão por desilusão amorosa.
Sobre Gil Vicente
Até lançar sua primeira obra em 1502, nada se sabe sobre Gil Vicente. A hipótese mais difundida é que ele nasceu por volta de 1465 na região da Beira, em Portugal. Em documentos do século XVI aparecem referências a três pessoas chamadas Gil Vicente: um que participava de torneios poéticos na corte, outro que era ourives, e mais um que era Mestre da Balança da Casa da Moeda de Lisboa. Alguns teóricos defendem que todos se tratam da mesma pessoa, mas não há provas suficientes que comprovem estas hipóteses. Do mais, sabe-se que ele foi casado duas vezes e que teve cinco filhos.
A primeira de suas obras, “Auto da Visitação” (ou “Monólogo do vaqueiro”), data de 1502 e foi encenada pelo próprio Gil Vicente na câmara da rainha D. Maria em comemoração ao nascimento de D. João, futuro rei D. João III. A peça divertiu e agradou sua plateia, e depois vieram muitas outras peças que foram representadas para a corte.
Apesar de boa parte de sua obra ainda ser presa a algumas temáticas medievais, como por exemplo os valores religiosos, o teatro de Gil Vicente também apresenta características do movimento Humanista, principalmente a forte crítica à nobreza, ao clero e à burguesia. Portanto, pode-se dizer que sua obra é de transição entre a Idade Média e o Renascimento.
Gil Vicente foi quem desenvolveu e fixou o gênero do auto na dramaturgia de língua portuguesa, vindo a influenciar toda a geração posterior de escritores. Além disso, sua obra é uma fonte rica para se entender a língua e sociedade portuguesa do século XVI, com seus pensamentos, costumes e vícios.
Suas principais obras são: "Auto Pastoril Castelhano" (1502), "Auto da Índia" (1509), "O Velho da Horta" (1512), "Auto da Barca do Inferno" (1517), "Auto da Barca do Purgatório" (1518), "Auto da Barca da Glória" (1519), "Farsa de Inês Pereira" (1523), "Auto Pastoril Português" (1523) e "Farsa do Juiz da Beira" (1525).
Trabalho do bimestre:
A turma será dividida em equipes para a leitura, análise e interpretação da obra de Gil Vicente. Os trabalhos deverão ser produzidos em formato de curta-metragem, conforme os modelos abaixo.
Todos os trabalhos em vídeo deverão conter no mínimo 10 e no máximo 15 minutos de duração e deverão ser entregues em formato .MP4, alta qualidade (720p).
Modelos de Trabalhos realizados em forma de teatro:
MODELO DE TEXTO ADAPTADO - Extraído do site Literatura em Ação
Roteiro da Apresentação
Este é um modelo de texto adaptado para a linguagem de hoje. Vocês podem alterá-lo e adaptá-lo para que fique original, demonstrando que o grupo de se envolveu com o trabalho.
- Gil Vicente [agitado]: Impossível! Como podem me chamar de plagiador? Eu, um homem de bem! Deixe estar! Hei de provar que não sou dessa índole! ... espere, aonde esta o mote que Dom João III me deu?? Ah, está aqui!
- Gil Vicente [se senta à mesa para pensar]: ora, escreverei um auto a partir deste mote, e calarei a boca daqueles que me difamam! E desta vez será diferente! Irei me desviar um pouco de meu estilo! Continuarei com as críticas, claro, mais este Auto vai ter um algo a mais... Vamos aos personagens... Personagem principal: ... (que fome! Vontade de comer pera...)... Inês Pereira! Mocinho: ... (pera... pereira)... Pero! Pero Marques! Vilãozinho: ...Brás da mata! (escudeiro metido a rico). A mãe de Inês não pode faltar, e para dar um humor..., Dois judeus casamenteiros... Latão e Vidal! (que nomes estranhos... mas vai ser assim mesmo!), e uma alcoviteira (safada...)... Lianor Vaz. [estala os dedos] Vamos Gil, mãos à obra!
•
Inês é filha de uma mulher simples.
Muito fantasiosa, finge que trabalha em casa. Sua mãe foi à missa. A jovem
entra cantando esta cantiga:
• Inês(cantando): Vida de Inês é difícil... É difícil
ser Inês...
• Inês (falando): Não quero trabalhar! Meu Jesus! Que
sofrimento! Vou ficar aqui, presa a vida inteira? Já estou cansada de ficar
nessa mesmice, em que todas as pessoas de minha idade curtem a vida e eu não...
Que pena!...
•
A mãe chega em casa, e não achando-a
trabalhando, diz:
• Mãe: Ah! Imaginei! E a tarefa que deixei
contigo? Está doente?
• Inês: Oro a Deus que eu saia daqui logo.
• Mãe: O que houve contigo, filha?
• Inês:
Não quero
ficar para titia...
• Mãe:
Como quer um
marido, sendo tão preguiçosa?
• Inês: Mas mãe, sou ativa e esperta, e você é lenta.
•
Mãe: Espera... Não se esqueça que “o tempo de Deus e
diferente do tempo dos homens”, virão maridos aos montes e...
• Inês: Não vejo a hora!
• Mãe: lá vem Lianor Vaz...
•
Chega Lianor Vaz, se benzendo, e diz:
• Lianor vaz:
Meu Deus! Me
livre do pecado!
• Mãe: o que houve?
• Lianor Vaz: O que farei? Nunca passei tanta vergonha...
•
Mãe: Foi algo muito ruim?
• [] Lianor: Ruim?! Deixe eu lhe contar:
• []
Lianor: Vinha ali, pelo beco e um frade me abordou do nada!
Não pude me defender! Ele me violentou passando a mão debaixo do meu vestido,
pois queria saber se eu era homem ou mulher. Se pensas que era jovem, errou!
Era já um senhor, forte, fiquei tanto excitada... Digo... Assustada! Quando me
recusei a dar o que ele queria, rasgou um pedaço de meu vestido!
•
[] Mãe: o mundo está perdido! Conhecia o frade?
• [] Lianor: Não... Mas queria conhecê-lo!
•
[] Mãe: Meu Deus!
•
[] Lianor: Vou me confessar com o Cardeal, tenho que me livrar
desse pecado!
•
[]
Mãe: Deveria ter lhe dado um tapa!
•
[]
Lianor: O que? E ser excomungada! Sou uma mulher tão...
Religiosa... Tão inocente. Mudando de assunto, tenho um pretendente para Inês!
• Inês: Mas, para quando?
•
[] Lianor: Já tenho a resposta!
•
[] Inês: Só hei de casar com um homem esperto, mesmo sendo
pobre.
•
[] Lianor: Vamos! Leia esta carta que ele lhe mandou!
•
Inês lê a carta de Pero. (Aqui vocês devem ser criativos e improvisar na carta conforme o contexto da história)
•
[] Inês: nunca vi rapaz tão desajeitado, tão sem-jeito!
•
[] Lianor: Inês, não seja tão exigente! Casa-te logo, sem pensar!
•
[] Mãe: Mais vale um burro que lhe carregue, do que um cavalo
que lhe derrube!
•
[] Inês: Certo! Chame-o, Lianor, quero rir logo!
•
Pero começa a procurar a casa de
Inês.
•
[]Pero marques: Acho que sua casa é aqui.
•
Pero marques chega onde elas estão e
diz:
•
[] Pero: me desculpem
pela demora.
•
[] Mãe: Tome esta cadeira.
•
[] Pero: Quanto custa uma dessas?
•
[] Inês (para si mesmo): Meu Deus... Que rapaz ignorante!
•
Pero senta-se de
costas para as meninas
•
[] Pero: Acho não estou muito bem...
•
[] Mãe: Qual seu nome, meu jovem?
•
[] Pero: Pero Marques, assim como meu pai, que Deus o tenha...
Mas herdei maior gado (fala-se rápido, pra dar confusão)
•
[] Mãe: então é um homem de posses...
•
[] Pero: não... Desculpe-me, falo de gado, senhora. Inês, lhe
trago um presente... Uma Pera! Pois sou Pero e você é pereira!
•
[] Inês (irônica): Que presente...
•
Pero vai tirando suas coisas da bolsa
•
[] Inês: onde estão as peras?
•
Mãe sai imediatamente
•
[] Pero: Me desculpe! Alguém deve ter comido! Pelo que vejo,
sua mãe nos deixou a sós! Preciso ir logo.
•
[] Inês: e você, o que há de fazer
•
[] Inês (para si mesma ): que galante atrevido!
•
[] Pero: Sua mãe volta?
•
[] Inês: sim.
•
[] Pero: tenho que ir, antes que a noite chegue.
•
[] Inês: Que homem insistente! Podes ir embora, não o quero!
•
[] Pero: ...certo, não te perturbareis mais. Só casarei contigo
quando quiser...
•
[] Pero (para
si mesmo): Assim
são as mulheres... Tentamos agradá-las, e elas pisam em nós...
•
Pero vai embora e a mãe chega
•
[] Mãe: Pero já se foi?
•
[] Inês: Já foi-se tarde.
•
[] Mãe: não se agradou dele?
•
[] Inês: Que suma de uma vez!
•
[] Inês: Quero um homem que seja galante, que toque viola,
mesmo que seja pobre.
•
[] Mãe: e essa viola vai te sustentar?
•
[] Inês: Deixe-me! Cada qual com sua mania! Já mandei os judeus
casamenteiros procurarem um pretendente.
•
Chegam Latão e Vidal, e latão diz:
•
[Sidnei] Latão: Ó de casa!
•
[Keylla] Mãe: Quem é?
•
[Lucas A.] Vidal: Em nome de Deus! Somos nós!
•
[Sidnei] Latão: Não sabe o quanto andamos!
•
[] Vidal: até por uma caganeira passamos...
•
[] Latão: bom, procuramos seu pretendente...
•
[] Vidal: E achamos!
•
[] Latão: Cale-se!
•
[] Vidal: Não quer que eu diga!
•
[] Latão: Deixa-me falar!
•
[] Vidal: certo...
•
[] Latão: Achamos seu...
•
[] Vidal: pretendente! Não queria um homem que tocasse viola?
•
[] Latão: Não Vidal, ela não é louca de escolher marido por seu
bom-senso, por seu querer...
•
[] Vidal: Posso falar!
•
[] Latão: Pode...
•
[] Vidal: não foi fácil achá-lo...
•
[] Latão: o procuramos por toda parte...
•
[] Vidal: eu falo ou você fala!
•
[] Inês: Meu Deus! Algum de vocês falará! Já estou perdendo os
modos!
•
[] Mãe: Olhe a educação que lhe dei Inês!
•
[] Inês: enfim, trouxeram novidades?
•
[] Vidal: Seu pertencente, só achamos na corte, e ainda assim
tivemos muitas dificuldades.
•
[] Inês: Não conseguiram nada?
•
[] Vidal: Tenha paciência! Achamos um escudeiro, que fala muito
bem, como fala! E toca violão lindamente! Muito galante o rapaz!
•
O escudeiro vem, com seu moço, que
segura um violão, e diz, falando com ele mesmo:
•
[] Escudeiro: Se esta senhora é assim como os judeus me descreveram,
foi feita por anjos! Bela donzela, basta observar se é honesta e formosa.
•
[] Mãe (Para Inês): Se tal escudeiro vier aqui, tens que passar boa
impressão. Não falar muito, não rir, não olhar demais, nem se mexer, para que
te julguem moça calada, que é pessoa mais querida!
•
[] Escudeiro (para criado): vou ver com qual dama me casarei, fique calado!
•
[] Moço (para si mesmo): Como na frente de um rei! Ai de mim!
•
[] Escudeiro: e se eu olhar para ti com estranheza, faça reverência
a mim!
•
[] Moço (para si mesmo): Quanta demência!
•
[] Escudeiro: e se eu mentir, elogiando-me excessivamente, ou fique
quieto, ou vá lá fora para rir, para não estragar meu plano! Por favor!
•
[] Moço: Porém, senhor, com estes calçados, hei de estragar seu
plano!
•
[] Escudeiro: conseguirei um logo, e mais roupas novas! Prometo!
•
[] Moço (para si mesmo): que homem estranho! Coitada desta moça!
•
Chega o escudeiro onde Inês se
encontra, e todos lhe fazem as honras, e ele diz:
•
[] Escudeiro: Antes que algo fale, Deus lhe salve, linda rosa;
bela,graciosa, formosa; és minha metade da laranja, aquela; que admiro e chamo
de minha donzela. De nada me muito... Importa; Se... Sem dote... Não tiver se
esta é a condição. Seria eu, um... Calhorda, de não obedecer... Meu... Pobre
coração!
•
[] Latão: Como fala
•
[] Vidal: e a moça só escuta!
•
[] Latão: acho que este será o marido, pelo que se decorre!
•
[] Escudeiro: bem, eu... Moço, o que está fazendo?
•
[] Moço: o que mandas, senhor?
•
[] Escudeiro: venha aqui, já!
•
[] Moço: Para quê?
•
[] Escudeiro: Ora! Para servir minhas ordens!
•
[] Moço: Ah sim, claro...
•
[] Moço (para si mesmo): o diabo me pregou uma prenda! Deixei de servir a um
homem de bem, para servir a um imprudente!
•
[] Escudeiro: Fui dispensar um bom rapaz para contratar esse
tolo!Moço!
•
[] Moço: Sim, meu senhor
•
[] Escudeiro: traga minha viola!
•
[] Moço (ao escudeiro): Aqui meu senhor, já está afinada, não precisa se
preocupar!
•
[] Mãe: até imagino, Inês, que entrarás no paraíso!
•
[] Inês: qual o problema?
•
Escudeiro toca uma musica romântica.
•
[] Vidal: Moça, não deixe esta oportunidade fugir de tuas mãos!
Escudeiro, músico, conhecedor das coisas, galante, ao seu dispor, pronto para te amar
•
[] Mãe: Quero rir, com toda a tristeza, Destes seus
casamenteiros, dois sem-vergonha, trambiqueiros.
•
[] Latão: Senhora, cale-se! Cuidado! Ninguém poderá conter o que
for determinado por Deus!
•
[] Mãe: Inês, não seja tola! Quer um escudeiro sem posses?
•
[] Inês: Em nome de todos os Santos! Chega de se meter nos meus
assuntos!
•
[Lucas V.] Escudeiro: Dê essa mão, minha senhora. É de sua vontade?
•
[] Inês: é sim, não é Mãe?!
•
[] Escudeiro: Muito bem! Recebo você, quem olhar além! Em nome de
Deus, assim seja! Eu, Brás da Mata, escudeiro, Aceito sua mão, Inês Pereira,
Por esposa e por parceira, Como dita a Santa Igreja.
•
[Juliana] Inês: Eu aqui, diante de Deus, Inês Pereira, aceito você...
Brás da... Mata, certo? Como manda a Santa Igreja.
•
Os judeus casamenteiros juntos dizem: Pelo Deus de Abraão, Isaac e Jacó, está cumprido este
matrimônio!
•
[] Vidal: agora, nos paguem o combinado.
•
[] Mãe: Valha-me Deus! Amanhã! Que desespero!
•
[] Escudeiro: Ora! Estou... Casado
•
[] Inês: arrependeu-se?
•
[] Escudeiro: nem me fale, que casar é um cativeiro.
•
[] Mãe: Fica com Deus minha filha! A minha bênção já tem. E o
senhor, cuide dela como eu sempre fiz!
•
A mãe de Inês sai, e fica Inês e o
escudeiro. Ao cuidar da casa, Inês canta:
•
[] Inês: Vida de Inês é difícil... É difícil ser Inês... Mas
agora, casada...
•
O escudeiro, vendo Inês cantando, a
repreende bruscamente:
•
[] Escudeiro: Você cantou, Inês? Espero que tenha sido a primeira e
a última vez! Seu eu a ouvir cantar novamente, nem assobiar você conseguirá!
•
[] Inês: Por quê ficaste tão bravo, marido?
•
[] Escudeiro: ainda perguntas? Mulher minha tem que ficar calada!
Não vai falar com ninguém, não poderás ir a igreja, nem ir a janela. Ficará
trancada e isolada nessa casa!
•
[] Inês: Qual foi o meu pecado, marido?
•
[] Escudeiro: não há outro jeito se não esse minha querida!
•
[] Escudeiro (para o moço): Vou para guerra na África, vou promovido a cavaleiro,
cuide para que Inês não saia daqui.
•
[] Moço: E o que hei de comer?
•
[] Escudeiro: e o que lhe dei? Não basta?
•
[] Moço: e depois que
acabar o dinheiro?
•
[] Escudeiro: Aqui por perto tem umas figueiras, esfomeado, mata tua
fome!
•
[] Moço: Ah, sim!
•
Sai o escudeiro, e o moço diz a inês:
•
[] Moço: O que ele me ordenou não tenho coragem de fazer.
•
[] Inês: se ele te dá ao menos o que comer, sua praga será cumprir
esta tarefa.
•
[] Moço: Eu vou me divertir, e você vai ficar aqui trancada.
•
[] Gil Vicente: Três meses depois...
•
[] Inês: Quem bem tem e mal escolhe, por mais mal que venha,
não se encolhe.
•
[] Inês: Fui escolher demais, e deu nisso! Espero que os mouros
o matem! Sei hei de ficar solteira, saberei escolher desta vez!
•
Chega o moço, com uma carta de
Arzila, dizendo:
•
[] Moço: esta carta vem da África, deve ser de meu senhor.
•
[Juliana] Inês: me dê essa carta, se for de meu marido, saberei agora.
•
Ela lê o que está inscrito no
envelope
•
[] Inês: É de meu irmão! Vamos ver o que se explica.
•
Inês lê a resto da carta (e para no
4º verso, dizendo: (Aqui vocês devem ser criativos e improvisar na carta conforme o contexto da história)
•
[] Inês: Ora, que é isso?
•
Continuou a leitura
•
Recebendo a trágica notícia, o moço
se espanta e diz:
•
[] Moço: Não! Meu Senhor!
•
[] Inês: Tome esta chave e faça o que quiser de sua vida!
•
[] Moço: Oh! Que triste despedida!
•
[] Inês: Veja! Se
passava por homenzarrão, mentindo para todos. Quero agora um novo rumo: quero
marido manso, ingênuo, para ser livre!
•
Ao ver Lianor vaz, Inês Finge seu
choro. Lianor pergunta:
•
[] Lianor: como estás, Inês?
•
[] Inês: Muito triste.
•
[] Lianor: ao menos tivesses engravidado...
•
[] Inês: não tive essa sorte...
•
[] Lianor: Filha, não chores pelo leite derramado, casa-se outra
vez!
•
[] Inês: Meu Deus! Estou sozinha! Isso é coisa que se diga,
sem-sentido!
•
[] Lianor: Esqueça do passado... Pero Marques parece que herdou
boa quantia de dinheiro!
•
[] Inês: Basta! Agora sim! Se herdou ou não, já aprendi a
lição! O chame!
•
Sai Lianor Vaz atrás de Pero Marques.
E Inês fica sozinha, logo dizendo:
•
[] Inês: se é para ser Pero Marques, que seja! Marido bondoso e
inocente, que faça minhas vontades. Antes lebre que leão...
•
Vem Lianor Vaz juntamente de Pero
Marques. Diz Lianor Vaz:
•
[] Lianor: Sem cerimônia, abrace-a e a faça sua mulher.
•
[] Pero Marques: Estou atrapalhado! Só irei abraça-la após se casarmos,
caso ela aceite...
•
[] Inês (irônica): sim, aceito...
•
[] Lianor: Ora! Me dê sua mão. Sabe as palavras, não sabe?
•
[] Pero: ensinaram-me, mas... Esqueci! Estou nervoso!
•
[] Lianor: por Deus! Repita o que digo...
•
[] Pero: Bom, você se casa comigo, e eu me caso com você, por
Deus. E me decepem as orelhas, caso negue algo a você!
•
[] Lianor: já vou, Fique com Deus.
•
E sai Lianor Vaz. Diz Inês Pereira:
•
[] Inês: Marido, vou sair.
•
[] Pero: sim, vá se divertir, acho que também irei.
•
[] Inês: Escutes marido, irei para onde EU quiser, certo?
•
[] Pero: Mas é claro! Vá onde quiser, volte quando quiser...
Com o que me preocuparei?
•
Vem um Ermitão pedindo esmola. Vem a
dizer:
•
[] Ermitão: Senhores, por caridade, dê uma esmola a um pobre e por
amor ferido, Ermitão de Cupido, desde sempre só! Os que vão bem de amores dão
esmola àquele sem esperança, que habita a escuridão com suas dores, e rezarei
com grande devoção e fé, que Deus os livre do engano; Pois, por isso sou o Ermitão,
E por todo o sempre eu serei. Pois você, que sabe quem é, sabe do meu triste
sonho.
•
[] Inês: Escuta marido, por caridade, deixe-me dar esmola a um
ermitão!
•
[] Pero: Pode ir mulher, não tenho nada a fazer lá.
•
[] Inês: tome esta... Esmola, por caridade.
•
[] Ermitão: Seja pelo amor de mim, sua boa caridade tenha graças,
minha bela senhora, sua esmola mata o pecado; Deve saber, senhora, o que me fez
fazer, tornei-me um Ermitão, faltando pedaços do coração, com o que você deixou
de dizer.
•
[] Inês: Meu Deus, é você! Aquele que um dia foi meu namorado,
que me mandou uma florzinha, quando era pequenina!
•
[] Ermitão: Tanto quis teu bem, bela donzela, e comigo, nada
quisestes, porém, ainda lhe amo!
•
[] Inês: Eu o entendo! Não se aborreças que irei lhe fazer
uma... Visita.
•
[] Ermitão: E quando será isso?
•
[] Inês: não muito tarde, agora vá!
•
[] Inês (para si mesma): Aquele ermitão... É um anjinho!
•
[] Pero: Como és bondosa, minha esposa!
•
[] Inês: Sabe o que desejo marido?
•
[] Pero: O que?
•
[] Inês: Que fôssemos andando até o templo onde encontra-se o
Ermitão!
•
[] Pero: Claro, não vejo empecilho!
•
[] Inês: Muito bem, passemos primeiro pelo rio. Tire seus
sapatos.
•
[] Pero: como?
•
[] Inês: Vai me carregar nas costas, para não sentir a água
fria em meus pés!
•
Pero coloca Inês em suas costas, que
diz:
•
[] Pero: Estás
confortada?
•
[] Inês: como se estivesse no Paraíso! Olhe! Que lindas
pedras! Carregue para mim marido?
•
[] Pero: como quiser.
•
[] Inês: Vamos cantar?
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[] Pero: mas não sei...
•
[] Inês: não tem problema! Eu canto e você apenas repete: “Pois
assim acontecem as coisas.”
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[] Pero: Como quiser!
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Canta Inês Pereira:
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[] Inês: Marido como um búfalo me carrega, com mais dois
pedaços de pedra.
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[] Pero: Pois assim devem ser as coisas.
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[] Inês: Sempre soube você, meu marido, eu o amo como sois;
Sempre fostes a mim preparado a pertencer como um lote de bois.
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[] Pero: Pois assim acontecem as coisas.
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[] Inês: Bem sabe
você, meu marido, quanto eu a ti... Quero; Sempre foi percebido, a ser um manso
e chifrudo cervo. Além disso, tornou-se o burro que me carrega. Levando a mim e
dois pedaços de pedra.
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[] Pero: Pois assim acontecem as coisas.
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[] Gil Vicente: e assim termina esse auto. Com mote
“Mas vale um burro que me carregue do que um cavalo que me derrube”.
P-E-R-F-E-I-T-O, já é meia noite e meia escrevi durante a noite toda, mas
escrever vale a pena. Ahh [beijando o livro] Boa noite.
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