terça-feira, 27 de setembro de 2016

Trabalhando com RESUMO

TEXTO COMENTADO


                      Nós, antropólogos sociais, que sistematicamente estudamos
                      sociedades diferentes, fazemos isso quando viajamos. Em contato com
                      sistemas sociais diferentes, tomamos consciência de modali-
                      dades de ordenação espacial diversas que surgem aos nossos senti-
                 5   dos de modo insólito, apresentando problemas sérios de orientação
                      (...). E foi curioso e intrigante descobrir em Tóquio que as casas têm
                      um sistema de endereço pessoalizado e não impessoal como o nos-
                      so. Tudo muito parecido com as cidades brasileiras do interior on­-
                      de, não obstante cada casa ter um número e cada rua um nome,
                 10 as pessoas informam ao estrangeiro a posição das moradias de mo­-
                      do pessoalizado e até mesmo íntimo: “A casa do Seu Chico fica ali
                      em cima.., do lado da mangueira... é uma casa com cadeiras de lona
                      na varanda.., tem janelas verdes e telhado bem velho.., fica Logo
                      depois do armazém do Seu Ribeiro...’ Aqui, como vemos, o espaço
                 15 se confunde com a própria ordem social de modo que, sem enten­-
                      der a sociedade com suas redes de relações sociais e valores, não
                      se pode interpretar como o espaço é concebido. Aliás, nesses siste­-
                      mas, pode-se dizer que o espaço não existe como uma dimensão so-
                      cial independente e individualizada, estando sempre misturado, in­-
                 20 terligado ou ‘embebido” — como diria Karl PoLanyi — em outros
                      valores que servem para orientação geral. No exemplo, sublinhei a
                      expressão “em cima” para revelar precisamente esse aspecto, da­-
                      do que a sinalização tão banalizada no universo social brasileiro do
                      “em cima” e do ‘embaixo” nada tem a ver com altitudes topografi­-
                 25 camente assinaladas, mas exprimem regiões sociais convencionais
                      e locais. Às vezes querem indicar antigüidade (a parte mais velha
                      da cidade fica mais ‘em cima”). Noutros casos pretendem sugerir
                      segmentação social e econômica: quem mora ou trabalha embai­-
                      xo’ é mais pobre e tem menos prestígio social e recursos econômi­-
                 30 cos. Tal era o caso da cidade de Salvador no período colonial, quan­-
                      do a chamada ‘cidade baixa”, no dizer de um historiador do perío­-
                      do. ‘era dominada pelo comércio e não pela religião” (dominante.
                      junto com os serviços públicos mais importantes, na ‘cidade alta”).
                      “No cais — continua ele dando razão aos nossos argumentos — ma­-
                 35 rinheiros. escravos e estivadores exerciam controle e a área muito
                      provavelmente fervilhava com a mesma bulha que lá se encontra
                      hoje em dia” (Cf. Schwartz, 1979: 85). Do mesmo modo e pela mes­-
                      ma sorte de lógica social, são muitas as cidades brasileiras que pos-
                      suem a sua “rua Direita” mas que jamais terão, penso eu, uma rua
                 40 Esquerda”! Foi assim no caso do Rio de Janeiro, que além de ter a
                      sua certíssima rua Direita, realmente localizada à direita do largo
                      do Paço, possuía também as suas ruas dos Pescadores, Alfândega,
                      Quitanda (onde havia comércio de fazenda), Ourives — dominada
                      por joalheiros e artífices de metais raros — e muitas outras, que
                 45 denunciavam com seus nomes as atividades que nelas se desenro­-
                      lavam. Daniel P. Kidder, missionário norte-americano que aqui resi­-
                      diu entre 1 837 e 1 840. escreveu uma viva e sensível descrição das
                      ruas do Rio de Janeiro e do seu “movimento”, não deixando de res­-
                      saltar no seu relato alguma surpresa pelos seus estranhos nomes
                 50 e sua notável, diria eu. metonímia ou unidade de continente e
                      conteúdo.
                      Ora, tudo isso contrasta claramente com o modo de assinalar
                      posições das cidades norte-americanas, onde as coordenadas de in­-
                      dicação são positivamente geométricas, decididamente topográfi­-
                 55 cas e, por causa disso mesmo, pretendem-se estar classificadas por
                      um código muito mais universal e racional. Assim, as cidades dos
                      Estados Unidos se orientam muito mais em termos de pontos car­-
                      deais — Norte/Sul, Leste/Oeste — e de um sistema numeral para
                      ruas e avenidas, do que por qualquer acidente geográfico, ou qual-
                 60 quer episódio histórico, ou — ainda — alguma característica social
                      e/ou política. Nova lorque, conforme todos sabemos, é o exemplo
                      mais bem-acabado disso que é, porém, comum a todos os Estados
                      Unidos. Se lá então é mais difícil para um brasileiro navegar social-
                      mente nas cidades e estradas, é simplesmente porque ele (ou ela)
                 65 não está habituado a uma forma de denotar o espaço onde a forma
                      de notação surge de modo muito mais individualizado, quantifica­-
                      do e impessoalizado.



 DA MATTA, Roberto. A casa e a rua: espaço, ci­dadania, mulher e morte no Brasil. São Paulo.
 Brasiliense, 1985. p. 25-7.

Depois de ler o texto do começo ao fim, vemos que ele trata do modo distinto como cada sistema social organiza o espaço.

Depois percebemos o movimento do texto: afirmação de que existem diferentes maneiras de ordenação espacial e, em seguida, ilustração dessa ideia, comparando a maneira de ordenar e denominar o espaço nas cidades brasileiras e a de fazer a mesma operação nas cidades norte-americanas.

O texto divide-se em duas grandes partes: proposição e ilustração.

A segunda parte divide-se segundo o critério de oposição espacial: Brasil x Estados Unidos (Tóquio não é levada em conta, porque a observação a respeito dos endereços no Japão serve apenas para introduzir o problema da indicação dos endereços no Brasil).



Para facilitar, podemos segmentar o texto em três partes:

1)    “Nós, antropólogos sociais” até “problemas sérios de orientação”;
2)    “E foi curioso e intrigante” até “unidade de continente e de conteúdo”;
3)    “Ora, tudo isso contrasta” até o fim.

As partes resumem-se da seguinte maneira:

1)    existência de uma ordenação espacial peculiar a cada sistema social;
2)    Brasil — ordenação e denominação do espaço a partir de critérios pessoais, sociais;
3)    Estados Unidos — ordenação e denominação do espaço a partir de critérios impessoais.

A redação final do resumo pode ser:

Cada sistema social concebe a ordenação do espaço de uma maneira típica. No Brasil, o espaço não é concebido como um elemento independente dos valores sociais, mas está embebido neles. Expressões como “em cima” e “embaixo”, por exemplo, não exprimem propriamente a noção de altitudes mas indicam regiões sociais. As avenidas e ruas recebem nomes indicativos de episódios históricos, de acidentes geográficos ou de alguma característica social ou política. Nas cidades norte-americanas, a orientação espacial é feita pelos pontos cardeais e as ruas e avenidas recebem um número e não um nome. Concebe-se, então, o espaço como um elemento dotado de impessoalidade. sem qualquer relação com os valores sociais.


Resumo

Resumo é uma condensação fiel das idéias ou dos fatos contidos no texto.

Resumir um texto significa reduzi-lo ao seu esqueleto essencial sem perder de vista três elementos:

a)cada uma das partes essenciais do texto;
b)a progressão em que elas se sucedem;
c)a correlação que o texto estabelece entre cada uma dessas partes.

Quem resume deve exprimir, em estilo objetivo, os elementos essenciais do texto. Por isso não cabem, num resumo, comentários ou julgamentos ao que está sendo condensado.

Muitas pessoas julgam que resumir é reproduzir frases ou partes de frases do texto original, construindo uma espécie de “colagem”. Essa “colagem” de fragmentos do texto original não é um resumo. Resumir é apresentar, com as próprias palavras, os pontos relevantes de um texto.


Aconselhamos o uso do seguinte procedimento para diminuir as dificuldades de elaboração do resumo:

1.Ler uma vez o texto ininterruptamente, do começo ao fim. Essa primeira leitura deve ser feita com a preocupação de responder genericamente à seguinte pergunta: do que trata o texto?

2.Uma segunda leitura é sempre necessária. Mas esta, com interrupções, com o lápis na mão, para compreender melhor o significado de palavras difíceis (se preciso, recorra ao dicionário) e para captar o sentido de frases mais complexas (longas, com inversões, com elementos ocultos). Nessa leitura, deve-se ter a preocupação, sobretudo, de compreender bem o sentido das palavras relacionais, responsáveis pelo estabelecimento das conexões (assim, isto, isso, aquilo, aqui, lá, daí, seu, sua, ele, ela, etc.).

3.Num terceiro momento, tentar fazer uma segmentação do texto em blocos de ideias que tenham alguma unidade de significação.

Ao resumir um texto pequeno, pode-se adotar como primeiro critério de segmentação a divisão em parágrafos. Pode ser que se encon¬tre uma segmentação mais ajustada que a dos parágrafos, mas como início de trabalho, o parágrafo pode ser um bom indicador.
Quando se trata de um texto maior (o capítulo de um livro, por exemplo) é conveniente adotar um critério de segmentação mais funcional, o que vai depender de cada texto (as oposições entre os personagens, as oposições de espaço, de tempo).

Em seguida, com palavras abstratas e mais abrangentes, tenta-se resumir a ideia ou as ideias centrais de cada fragmento.

4.Dar a redação final com suas palavras, procurando não só con¬densar os segmentos mas encadeá-los na progressão em que se sucedem no texto e estabelecer as relações entre eles.


EXERCÍCIO

Resuma o texto que segue.

        Na verdade, por que desejamos. quase todos nós, aumentar
        nossa renda? A primeira vista, pode parecer que desejamos bens
        materiais. Mas, na verdade, os desejamos principalmente para im-
        pressionar o próximo. Quando um homem muda-se para uma casa
    5    maior num bairro melhor, reflete que gente “de mais classe” visi-
         tará sua esposa. e que alguns pobretões deixarão de frequentar seu
        lar. Quando manda o filho a um bom colégio ou a uma universidade
        cara, consola-se das pesadas mensalidades e taxas pensando nas dis-
        tinções sociais que tais escolas conferem a pais e filhos. Em toda
    10    cidade grande, seja na América ou na Europa, casas iguaizinhas a
        outras são mais caras num bairro que noutro, simplesmente po¬-
        que o bairro é mais chique. Uma das nossas paixões mais potentes
        é o desejo de ser admirado e respeitado. No pé em que estão as coi¬-
        sas, a admiração e o respeito são conferidos aos que parecem ricos.
    15    Esta é a razão principal de as pessoas quererem ser ricas. Efetiva¬-
        mente. os bens adquiridos pelo dinheiro desempenham papel secun¬-
        dário. Vejamos, por exemplo, um milionário, que não consegue dis¬-
        tinguir um quadro de outro, mas adquiriu uma galeria de antigos
        mestres com auxílio de peritos. O único prazer que lhe dão os qua¬-
    20    dros é pensar que se sabe quanto pagou por eles: pessoalmente. ele
        gozaria mais, pelo sentimento, se comprasse cromos de Natal, dos
        mais piegas, que, porém, não lhe satisfazem tanto a vaidade.
            Tudo isso pode ser diferente, e o tem sido em muitas socieda-¬
        des. Em épocas aristocráticas, os homens eram admirados pelo nas-
    25    cimento. Em alguns círculos de Paris, os homens são admirados pelo
        seu talento artístico ou literário, por estranho que pareça. Numa
        universidade teuta é possível que um homem seja admirado pelo
        seu saber. Na Índia, os santos são admirados; na China, os sábios.
        O estudo dessas sociedades divergentes demonstra a correção de
    30    nossa análise, pois em todas encontramos grande percentagem de
        homens indiferentes ao dinheiro, contanto que tenham o suficien-¬
        te para se sustentar: mas que desejam ardentemente a posse dos
        méritos pelos quais, no seu meio, se conquista o mérito.

RUSSELL, Bertrand. Ensaios céticos. 2. ed. São
Paulo, Nacional, 1957. p. 67-8.

Orações Subordinadas Substantivas


Uma oração subordinada, na gramática, é aquela que exerce uma função sintática em relação a uma outra oração, chamada oração principal e que pede complemento ou é uma oração que tem uma certa dependência de sentido em relação a oração principal entre eles um arquivo que pode ter uma certa transferência.

Exemplo:

    Aguardo que você chegue.

Nessa frase há duas orações: "Aguardo" e "que você chegue". Como a oração "que você chegue" está completando o sentido do verbo transitivo direto "aguardo", portanto, esta oração exerce função sintática do objeto direto, sendo assim uma oração subordinada substantiva objetiva direta.

Dependendo da função sintática que exercem, as orações subordinadas podem ser classificadas em: substantivas, adjetivas ou adverbiais.

Orações Subordinadas Substantivas

 



São aquelas que agem dentro dos substantivos (subjetiva, objetiva direta, objetiva indireta, apositiva, completiva nominal e predicativa), iniciam sempre por conjunções integrantes (que e se). 

Uma oração subordinada substantiva pode ser:

Subjetiva

Constitui a função de sujeito do verbo da oração principal.

    É provável que ele chegue ainda hoje . (o que é provável?) (que ele chegue ainda hoje.)

    Perguntou-se que tipo de pessoa faria uma coisa dessas. (o que se perguntou?) (que tipo de pessoa faria uma coisa dessas.)

    É necessário que você vá à escola.

Uma vez que apresentam-se desenvolvidas, também podem iniciar-se pelos indefinidos quem qual e quando ou advérbios, em interrogações indiretas. 

Podemos substituir a oração subordinada substantiva pelo pronome "isso", como apresentado abaixo:

É necessário isso.

Isso é necessário.

Pode ser também quando a oração principal inicia-se com verbo de ligação.

Objetiva Direta

Exercem função de objeto direto (complemento sem preposição).

    Desejo que todos venham. (quem deseja, deseja algo ou alguma coisa)

Predicativa

Exerce função de predicativo, sempre a partir de um verbo de ligação, qualificando o sujeito.

O problema é que não temos tempo.

Objetiva Indireta

É aquela que exerce a função de objeto indireto em relação ao verbo da oração principal. Nesse caso, o verbo da oração principal é transitivo indireto e a conjunção subordinativa vem precedida de preposição, expressa ou não. Vem introduzida pelas conjunções subordinativas integrantes que — se. 

É objetiva indireta porque no período simples possui função de objeto indireto. Exercem função de objeto indireto (possui uma preposição obrigatória, que vem depois de um verbo, sendo frequente a elipse da preposição).

Necessitamos de que todos nos ajudem. (quem necessita, necessita de algo, de alguma coisa ou de alguém)

Completiva Nominal

Exercem função de complemento nominal de um nome da oração principal, são regidas de preposição.

    Tenho esperança de que ele ganhe a vaga.

    Logo tenho que sair pois está tarde.

Apositiva

Exercem função de aposto.

    Desejo-te uma coisa: muita sorte.

Não precisa ter necessariamente dois pontos (:) ou ponto e vírgula (;) ou uma vírgula (,).

Desta maneira, todas as orações subordinadas substantivas podem ser trocadas por isso, disso ou nisso.

    Precisamos de que você faça a cena com a atriz. Igual a precisamos disso. (disso: completiva nominal ou objetiva indireta)

    Quero que venha para a guerra. Igual a quero isso. (isso: subjetiva, objetiva direta, predicativa)

    Fiquei pensando que valia a pena. Igual a fiquei pensando nisso. (nisso: completiva nominal ou objetiva indireta). 

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Abaixo mais algumas videoaulas disponíveis no Youtube. 


E por fim esta aqui.



Ficou com dúvida ainda? Leve pra mim na sala de aula que eu vou resolvê-las junto com você.

abraço.

Prof. Jeferson

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Figuras de Linguagem

Figuras de linguagem


A importância em reconhecer figuras de linguagem está no fato de que tal conhecimento, além de auxiliar a compreender melhor os textos literários, deixa-nos mais sensíveis à beleza da linguagem e ao significado simbólico das palavras e dos textos.

Definição: Figuras de linguagem são certos recursos não-convencionais que o falante ou escritor cria para dar maior expressividade à sua mensagem.


METÁFORA
É o emprego de uma palavra com o significado de outra em vista de uma relação de semelhanças entre ambas. É uma comparação subentendida.

Exemplo:
Minha boca é um túmulo.
Essa rua é um verdadeiro deserto.

COMPARAÇÃO
Consiste em atribuir características de um ser a outro, em virtude de uma determinada semelhança.

Exemplo:
O meu coração está igual a um céu cinzento.
O carro dele é rápido como um avião.

PROSOPOPEIA
É uma figura de linguagem que atribui características humanas a seres inanimados. Também podemos chamá-la de PERSONIFICAÇÃO.

Exemplo:
O céu está mostrando sua face mais bela.
O cão mostrou grande sisudez.

SINESTESIA
Consiste na fusão de impressões sensoriais diferentes.

Exemplo:
Raquel tem um olhar frio, desesperador.
Aquela criança tem um olhar tão doce.

CATACRESE
É uma metáfora desgastada, tão usual que já não percebemos. Assim, a catacrese é o emprego de uma palavra no sentido figurado por falta de um termo próprio.

Exemplo:
O menino quebrou o braço da cadeira.
A manga da camisa rasgou.

METONÍMIA
É a substituição de uma palavra por outra, quando existe uma relação lógica, uma proximidade de sentidos que permite essa troca. Ocorre metonímia quando empregamos:

- O autor pela obra.
Exemplo:
Li Jô Soares dezenas de vezes. (a obra de Jô Soares)

- o continente pelo conteúdo.
Exemplo:
O ginásio aplaudiu a seleção. (ginásio está substituindo os torcedores)

- a parte pelo todo.
Exemplo:
Vários brasileiros vivem sem teto, ao relento. (teto substitui casa)

- o efeito pela causa.

Exemplo:
Suou muito para conseguir a casa própria. (suor substitui o trabalho)


PERÍFRASE
É a designação de um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou.

Exemplo:
A Veneza Brasileira também é palco de grandes espetáculos. (Veneza Brasileira = Recife)
A Cidade Maravilhosa está tomada pela violência. (Cidade Maravilhosa = Rio de Janeiro)

ANTÍTESE

Consiste no uso de palavras de sentidos opostos.

Exemplo:
Nada com Deus é tudo.
Tudo sem Deus é nada.

EUFEMISMO

Consiste em suavizar palavras ou expressões que são desagradáveis.

Exemplo:
Ele foi repousar no céu, junto ao Pai. (repousar no céu = morrer)
Os homens públicos envergonham o povo. (homens públicos = políticos)

HIPÉRBOLE
É um exagero intencional com a finalidade de tornar mais expressiva a idéia.

Exemplo:
Ela chorou rios de lágrimas.
Muitas pessoas morriam de medo da perna cabeluda.

IRONIA
Consiste na inversão dos sentidos, ou seja, afirmamos o contrário do que pensamos.

Exemplo:
Que alunos inteligentes, não sabem nem somar.
Se você gritar mais alto, eu agradeço.

ONOMATOPÉIA
Consiste na reprodução ou imitação do som ou voz natural dos seres.

Exemplo:
Com o au-au dos cachorros, os gatos desapareceram.
Miau-miau. – Eram os gatos miando no telhado a noite toda.

ALITERAÇÃO
Consiste na repetição de um determinado som consonantal no início ou interior das palavras.

Exemplo:
O rato roeu a roupa do rei de Roma.

ELIPSE
Consiste na omissão de um termo que fica subentendido no contexto, identificado facilmente.

Exemplo:
Após a queda, nenhuma fratura.

ZEUGMA
Consiste na omissão de um termo já empregado anteriormente.

Exemplo:
Ele come carne, eu verduras.

PLEONASMO
Consiste na intensificação de um termo através da sua repetição, reforçando seu significado.

Exemplo:
Nós cantamos um canto glorioso.

 POLISSÍNDETO
É a repetição da conjunção entre as orações de um período ou entre os termos da oração.

 Exemplo:
Chegamos de viagem e tomamos banho e saímos para dançar.

ASSÍNDETO
Ocorre quando há a ausência da conjunção entre duas orações.

Exemplo:
Chegamos de viagem, tomamos banho, depois saímos para dançar.

 ANACOLUTO
Consiste numa mudança repentina da construção sintática da frase.

Exemplo:
Ele, nada podia assustá-lo.

Nota: o anacoluto ocorre com freqüência na linguagem falada, quando o falante interrompe a frase, abandonando o que havia dito para reconstruí-la novamente.

ANAFÓRA
Consiste na repetição de uma palavra ou expressão para reforçar o sentido, contribuindo para uma maior expressividade.

Exemplo:
Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro noturno. (Fernando Pessoa)

SILEPSE
Ocorre quando a concordância é realizada com a idéia e não sua forma gramatical. Existem três tipos de silepse: gênero, número e pessoa.

De gênero.
Exemplo:
Vossa excelência está preocupado com as notícias. (a palavra vossa excelência é feminina quanto à forma, mas nesse exemplo a concordância se deu com a pessoa a que se refere o pronome de tratamento e não com o sujeito).

De número.
Exemplo:
A boiada ficou furiosa com o peão e derrubaram a cerca. (nesse caso a concordância se deu com a idéia de plural da palavra boiada).

De pessoa
Exemplo:
As mulheres decidimos não votar em determinado partido até prestarem conta ao povo. (nesse tipo de silepse, o falante se inclui mentalmente entre os participantes de um sujeito em 3ª pessoa).



Fontes: Dicionário de Linguística, de Jean Dubois; Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, de Domingos Paschoal Cegalla; Dicionário de Linguística e Gramática, de J. Mattoso Camara Júnior.

 

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A Farsa de Inês Pereira - Gil Vicente


Olá, meus queridos alunos, estamos aqui com mais uma atividade literária.

Veremos a seguir, uma das mais trabalhadas obras de Gil Vicente: A Farsa de Inês Pereira, um texto produzido para ser encenado e que, apesar de ter sido escrito há tanto tempo, ainda é capaz de traduzir muito do que vivemos em dias atuais.

Conflitos morais e princípios éticos  são colocados à prova neste clássico literário português.

A obra pode ser dividida em cinco partes: a primeira é um retrato da rotina na qual se insere a protagonista; a segunda reflete a situação da mulher na sociedade da época, cujos registros são dados pela mãe de Inês, pela própria Inês e por Lianor Vaz; a terceira mostra o comércio casamenteiro, representado pelos judeus comerciantes e pelo arranjo matrimonial-mercantil de Inês com Brás da Mata; a quarta considera o casamento, o despertar para a realidade, contrapondo-a ao sonho que embalava as fantasias da protagonista e, finalmente, a quinta parte reflete a realidade brutal da qual Inês, experiente e vivida, procura tirar proveito próprio. A peça apresenta uma situação concreta, com uma personagem bem delineada psicologicamente e um fio condutor melhor configurado que as produções anteriores de Gil Vicente.

O enredo é simples: uma jovem sonhadora procura, por meio do casamento com um homem que saiba tocar viola, fugir à rotina doméstica. Despreza a proposta de Pero Marques, filho de um camponês rico, homem tolo e ingênuo, e aceita se casar com Brás da Mata, escudeiro ordinário e pobretão. No entanto, os sonhos da heroína são logo desfeitos, porque o marido revela sua verdadeira personalidade, maltratando-a e explorando-a. Brás da Mata vai para a África e lá vem a falecer. Inês, ensinada pela dura experiência, toma consciência da realidade e aceita se casar com Pero Marques, seu primeiro pretendente. Depressa também a jovem aceita a corte de um falso ermitão. A farsa termina com o marido (cantado por ela como gamo e cervo, tradicionalmente concebidos como símbolos do homem traído) levando-a às costas (asno que me carregue) até a gruta em que vive o ermitão, para um encontro nada ingênuo.



Resumo da obra

Inês Pereira é uma moça bonita e solteira que se vê obrigada a passar o dia em meio às tarefas domésticas. Inês sempre fica se queixando e vê no casamento a chance de se livrar dessa vida. Ela idealiza o noivo como sendo um moço bem educado, cavalheiro, que soubesse cantar e dançar, enfim, que fosse um fidalgo capaz de lhe dar uma vida feliz.

Um dia, Lianor Vaz, a casamenteira, chega na casa de Inês dizendo que havia sido atacada por um clérigo, mas que conseguira escapar. Lianor, porém, foi à casa da moça para relatar que Pero Marques, um rico camponês, quer se casar com Inês. A moça, então, lê a carta que Pero escreveu com suas intenções de casamento, mas ela não se conforma com a rusticidade do moço e concorda em recebê-lo só para rir da cara dele.

Lianor vai então buscar Pero e, enquanto isso, a mãe de Inês a aconselha a receber bem o pretendente. Quando o moço chega, ele se comporta de modo ridículo e demonstra não ter nenhum traquejo social. Vendo-se à sós com Pero, Inês o desencoraja quanto ao casamento e o moço vai embora. Nisso, ela informa à mãe que havia contratado dois judeus casamenteiros para encontrar um noivo que tivesse boas maneiras.

Entra em cena Latão e Vidal, os dois judeus casamenteiros, que vieram oferecer Brás da Mata, um escudeiro. Armado o encontro entre os dois jovens, Brás da Mata planeja ir à casa de Inês acompanhado de seu criado, o Moço, e os dois combinam contar uma série de mentiras para enganar a moça e conseguirem dar o “golpe do baú”. Já na casa de Inês, Brás da Mata age conforme ela queria: a trata de modo distinto com belas palavras, pega a viola e canta. Ele a pede em casamento, mas a mãe diz que a moça não deve fazê-lo, ao que os judeus contra-argumentam elogiando Brás de todas as formas.

Os dois se casam e a mãe presenteia os noivos com a casa. À sós com Brás, Inês começa a cantar de felicidade, mas ele se irrita e manda que ela fique quieta. Brás começa, então, a impor uma série de regras e exige que a moça fique trancada o dia inteiro em casa, proibindo-a até mesmo de olhar pela janela e de ir à missa. Pouco tempo depois, Brás informa ao Moço que partiria para a guerra, ordenando que ele vigiasse Inês e que ela deveria ficar trancada à chaves dentro de casa. Trancada em casa e não fazendo nada além de costurar, Inês lamenta e sua sorte e deseja a morte do marido para que pudesse mudar seu destino.           

Passado algum tempo, Moço aparece com uma carta do irmão de Inês onde ele informa que Brás havia morrido covardemente tentando fugir do combate. Feliz, Inês despede Moço, que vai embora lamentando seu azar. Então, sabendo que Inês havia ficado viúva, Lianor Vaz retorna oferecendo novamente Pero Marques como novo marido. Dessa vez Inês aceita e os dois se casam.     

Com a ampla liberdade que o marido lhe dava, Inês parecia levar a vida que sempre desejou. Um dia, chega em sua casa um Ermitão a pedir esmola e Inês vai atendê-lo. Porém, este é um falso padre e o deus que ele venerava, na realidade, era o Cupido. Inês reconhece o moço, que havia sido um antigo namorado seu. Ele diz que só havia se tornado ermitão porque ela o havia abandonado e começa a se insinuar para Inês, acariciando-a e pedindo um encontro entre os dois. Ela aceita e os dois marcam um encontro.

No dia marcado, Inês pede a Pero Marques que a levasse à ermida dizendo que era por devoção religiosa. O marido consente e os dois partem de imediato. Para atravessar um rio que havia no meio do caminho, Pero Marques carrega a mulher nas costas e essa vai cantando uma canção alusiva à infidelidade dela ao marido e à mansidão dele. Pero segue cantando o refrão, terminando como um tolo enganado.      

Lista de personagens           
As personagens do teatro vicentino não têm profundidade psicológica e são tipos ou alegorias, ou seja, são como representações de grupos, instituições ou ideias abstratas. Servem, assim, a uma finalidade moral preconcebida pelo autor. O modo de falar das personagens reproduz a maneira típica com que as camadas sociais e profissões que essas personagens representam falavam.   

Inês Pereira: moça bonita e solteira, que para se livrar dos afazeres domésticos sonhava em se casar com um fidalgo.           

Mãe: típica dona de casa preocupada com a educação e o futuro da filha.           

Lianor Vaz:
casamenteira que só respeita a opinião pública quando lhe convém.

Latão e Vidal: caricaturas do judeu espertalhão e hábil no comércio.       

Pero Marques: camponês rico, porém, ignorante e sem nenhum traquejo social. 

Brás da Mata (Escudeiro): escudeiro pobre que mal tinha dinheiro para se sustentar.    

Moço (Fernando): criado de Brás da Mata, é humilde e se deixa explorar pelo patrão, sempre acreditando nas mentiras que ele conta.          

Ermitão: falso monge que declara ter se tornado ermitão por desilusão amorosa.

Sobre Gil Vicente    
Até lançar sua primeira obra em 1502, nada se sabe sobre Gil Vicente. A hipótese mais difundida é que ele nasceu por volta de 1465 na região da Beira, em Portugal. Em documentos do século XVI aparecem referências a três pessoas chamadas Gil Vicente: um que participava de torneios poéticos na corte, outro que era ourives, e mais um que era Mestre da Balança da Casa da Moeda de Lisboa. Alguns teóricos defendem que todos se tratam da mesma pessoa, mas não há provas suficientes que comprovem estas hipóteses. Do mais, sabe-se que ele foi casado duas vezes e que teve cinco filhos.

A primeira de suas obras, “Auto da Visitação” (ou “Monólogo do vaqueiro”), data de 1502 e foi encenada pelo próprio Gil Vicente na câmara da rainha D. Maria em comemoração ao nascimento de D. João, futuro rei D. João III. A peça divertiu e agradou sua plateia, e depois vieram muitas outras peças que foram representadas para a corte.

Apesar de boa parte de sua obra ainda ser presa a algumas temáticas medievais, como por exemplo os valores religiosos, o teatro de Gil Vicente também apresenta características do movimento Humanista, principalmente a forte crítica à nobreza, ao clero e à burguesia. Portanto, pode-se dizer que sua obra é de transição entre a Idade Média e o Renascimento.           

Gil Vicente foi quem desenvolveu e fixou o gênero do auto na dramaturgia de língua portuguesa, vindo a influenciar toda a geração posterior de escritores. Além disso, sua obra é uma fonte rica para se entender a língua e sociedade portuguesa do século XVI, com seus pensamentos, costumes e vícios.      

Suas principais obras são: "Auto Pastoril Castelhano" (1502), "Auto da Índia" (1509), "O Velho da Horta" (1512), "Auto da Barca do Inferno" (1517), "Auto da Barca do Purgatório" (1518), "Auto da Barca da Glória" (1519), "Farsa de Inês Pereira" (1523), "Auto Pastoril Português" (1523) e "Farsa do Juiz da Beira" (1525).



Trabalho do bimestre: 

A turma será dividida em equipes para a leitura, análise e interpretação da obra de Gil Vicente. Os trabalhos deverão ser produzidos em formato de curta-metragem, conforme os modelos abaixo.

Todos os trabalhos em vídeo deverão conter no mínimo 10 e no máximo 15 minutos de duração e deverão ser entregues em formato .MP4, alta qualidade (720p).
 

Modelos de Trabalhos realizados em forma de teatro:


 










MODELO DE TEXTO ADAPTADO - Extraído do site Literatura em Ação

Roteiro da Apresentação

Este é um modelo de texto adaptado para a linguagem de hoje. Vocês podem alterá-lo e adaptá-lo para que fique original, demonstrando que o grupo de se envolveu com o trabalho.
  •  Gil Vicente [agitado]: Impossível! Como podem me chamar de plagiador? Eu, um homem de bem! Deixe estar! Hei de provar que não sou dessa índole! ... espere, aonde esta o mote que Dom João III me deu?? Ah, está aqui!
  • Gil Vicente [se senta à mesa para pensar]: ora, escreverei um auto a partir deste mote, e calarei a boca daqueles que me difamam! E desta vez será diferente! Irei me desviar um pouco de meu estilo! Continuarei com as críticas, claro, mais este Auto vai ter um algo a mais... Vamos aos personagens... Personagem principal: ... (que fome! Vontade de comer pera...)... Inês Pereira! Mocinho: ... (pera... pereira)... Pero! Pero Marques! Vilãozinho: ...Brás da mata! (escudeiro metido a rico). A mãe de Inês não pode faltar, e para dar um humor..., Dois judeus casamenteiros... Latão e Vidal! (que nomes estranhos... mas vai ser assim mesmo!), e uma alcoviteira (safada...)... Lianor Vaz. [estala os dedos] Vamos Gil, mãos à obra!
        Inês é filha de uma mulher simples. Muito fantasiosa, finge que trabalha em casa. Sua mãe foi à missa. A jovem entra cantando esta cantiga:
       Inês(cantando): Vida de Inês é difícil... É difícil ser Inês...
       Inês (falando): Não quero trabalhar! Meu Jesus! Que sofrimento! Vou ficar aqui, presa a vida inteira? Já estou cansada de ficar nessa mesmice, em que todas as pessoas de minha idade curtem a vida e eu não... Que pena!...
        A mãe chega em casa, e não achando-a trabalhando, diz:
        Mãe: Ah! Imaginei! E a tarefa que deixei contigo? Está doente?
        Inês: Oro a Deus que eu saia daqui logo.
       Mãe: O que houve contigo, filha?
       InêsNão quero ficar para titia...
       MãeComo quer um marido, sendo tão preguiçosa?
       Inês: Mas mãe, sou ativa e esperta, e você é lenta.
        Mãe: Espera... Não se esqueça que “o tempo de Deus e diferente do tempo dos homens”, virão maridos aos montes e...
       Inês: Não vejo a hora!
        Mãe: lá vem Lianor Vaz...
        Chega Lianor Vaz, se benzendo, e diz:
       Lianor vazMeu Deus! Me livre do pecado!
       Mãe:  o que houve?
        Lianor Vaz: O que farei? Nunca passei tanta vergonha...
        Mãe: Foi algo muito ruim?
        [] Lianor: Ruim?! Deixe eu lhe contar:
        [] Lianor: Vinha ali, pelo beco e um frade me abordou do nada! Não pude me defender! Ele me violentou passando a mão debaixo do meu vestido, pois queria saber se eu era homem ou mulher. Se pensas que era jovem, errou! Era já um senhor, forte, fiquei tanto excitada... Digo... Assustada! Quando me recusei a dar o que ele queria, rasgou um pedaço de meu vestido!
        [] Mãe: o mundo está perdido! Conhecia o frade?
        [] Lianor: Não... Mas queria conhecê-lo!
         [] Mãe: Meu Deus!
        [] Lianor: Vou me confessar com o Cardeal, tenho que me livrar desse pecado!
        [] Mãe: Deveria ter lhe dado um tapa!
        []  Lianor: O que? E ser excomungada! Sou uma mulher tão... Religiosa... Tão inocente. Mudando de assunto, tenho um pretendente para Inês!
         Inês: Mas, para quando?
        [] Lianor: Já tenho a resposta!
        [] Inês: Só hei de casar com um homem esperto, mesmo sendo pobre.
        [] Lianor: Vamos! Leia esta carta que ele lhe mandou!
        Inês lê a carta de Pero. (Aqui vocês devem ser criativos e improvisar na carta conforme o contexto da história)
        [] Inês: nunca vi rapaz tão desajeitado, tão sem-jeito!
        [] Lianor: Inês, não seja tão exigente! Casa-te logo, sem pensar!
        [] Mãe: Mais vale um burro que lhe carregue, do que um cavalo que lhe derrube!
        [] Inês: Certo! Chame-o, Lianor, quero rir logo!
        Pero começa a procurar a casa de Inês.
        []Pero marques: Acho que sua casa é aqui.
        Pero marques chega onde elas estão e diz:
        [] Pero:  me desculpem pela demora.
        [] Mãe: Tome esta cadeira.
        [] Pero: Quanto custa uma dessas?
        [] Inês (para si mesmo): Meu Deus... Que rapaz ignorante!
         Pero senta-se de costas para as meninas
        [] Pero: Acho não estou muito bem...
        [] Mãe: Qual seu nome, meu jovem?
        [] Pero: Pero Marques, assim como meu pai, que Deus o tenha... Mas herdei maior gado (fala-se rápido, pra dar confusão)
        [] Mãe: então é um homem de posses...
        [] Pero: não... Desculpe-me, falo de gado, senhora. Inês, lhe trago um presente... Uma Pera! Pois sou Pero e você é pereira!
        [] Inês (irônica): Que presente...
        Pero vai tirando suas coisas da bolsa
        [] Inês: onde estão as peras?
        Mãe sai imediatamente
        [] Pero: Me desculpe! Alguém deve ter comido! Pelo que vejo, sua mãe nos deixou a sós! Preciso ir logo.
        [] Inês: e você, o que há de fazer
        [] Inês (para si mesma ): que galante atrevido!
        [] Pero: Sua mãe volta?
        [] Inês: sim.
        [] Pero: tenho que ir, antes que a noite chegue.
        [] Inês: Que homem insistente! Podes ir embora, não o quero!
        [] Pero: ...certo, não te perturbareis mais. Só casarei contigo quando quiser...
        [] Pero (para si mesmo): Assim são as mulheres... Tentamos agradá-las, e elas pisam em nós...
        Pero vai embora e a mãe chega
        [] Mãe: Pero já se foi?
        [] Inês: Já foi-se tarde.
        [] Mãe: não se agradou dele?
        [] Inês: Que suma de uma vez!
        [] Inês: Quero um homem que seja galante, que toque viola, mesmo que seja pobre.
        [] Mãe: e essa viola vai te sustentar?
        [] Inês: Deixe-me! Cada qual com sua mania! Já mandei os judeus casamenteiros procurarem um pretendente.
        Chegam Latão e Vidal, e latão diz:
        [Sidnei] Latão: Ó de casa!
        [Keylla] Mãe: Quem é?
        [Lucas A.] Vidal: Em nome de Deus! Somos nós!
        [Sidnei] Latão: Não sabe o quanto andamos!
        [] Vidal: até por uma caganeira passamos...
        [] Latão: bom, procuramos seu pretendente...
        [] Vidal: E achamos!
        [] Latão: Cale-se!
        [] Vidal: Não quer que eu diga!
        [] Latão: Deixa-me falar!
        [] Vidal: certo...
        [] Latão: Achamos seu...
        [] Vidal: pretendente! Não queria um homem que tocasse viola?
        [] Latão: Não Vidal, ela não é louca de escolher marido por seu bom-senso, por seu querer...
        [] Vidal: Posso falar!
        [] Latão: Pode...
        [] Vidal: não foi fácil achá-lo...
        [] Latão: o procuramos por toda parte...
        [] Vidal: eu falo ou você fala!
        [] Inês: Meu Deus! Algum de vocês falará! Já estou perdendo os modos!
        [] Mãe: Olhe a educação que lhe dei Inês!
        [] Inês: enfim, trouxeram novidades?
        [] Vidal: Seu pertencente, só achamos na corte, e ainda assim tivemos muitas dificuldades.
        [] Inês: Não conseguiram nada?
        [] Vidal: Tenha paciência! Achamos um escudeiro, que fala muito bem, como fala! E toca violão lindamente! Muito galante o rapaz!
        O escudeiro vem, com seu moço, que segura um violão, e diz, falando com ele mesmo:
        [] Escudeiro: Se esta senhora é assim como os judeus me descreveram, foi feita por anjos! Bela donzela, basta observar se é honesta e formosa.
        [] Mãe (Para Inês): Se tal escudeiro vier aqui, tens que passar boa impressão. Não falar muito, não rir, não olhar demais, nem se mexer, para que te julguem moça calada, que é pessoa mais querida!
        [] Escudeiro (para criado): vou ver com qual dama me casarei, fique calado!
        [] Moço (para si mesmo): Como na frente de um rei! Ai de mim!
        [] Escudeiro: e se eu olhar para ti com estranheza, faça reverência a mim!
        [] Moço (para si mesmo): Quanta demência!
        [] Escudeiro: e se eu mentir, elogiando-me excessivamente, ou fique quieto, ou vá lá fora para rir, para não estragar meu plano! Por favor!
        [] Moço: Porém, senhor, com estes calçados, hei de estragar seu plano!
        [] Escudeiro: conseguirei um logo, e mais roupas novas! Prometo!
        [] Moço (para si mesmo): que homem estranho! Coitada desta moça!
        Chega o escudeiro onde Inês se encontra, e todos lhe fazem as honras, e ele diz:
        [] Escudeiro: Antes que algo fale, Deus lhe salve, linda rosa; bela,graciosa, formosa; és minha metade da laranja, aquela; que admiro e chamo de minha donzela. De nada me muito... Importa; Se... Sem dote... Não tiver se esta é a condição. Seria eu, um... Calhorda, de não obedecer... Meu... Pobre coração!
        [] Latão: Como fala
        [] Vidal: e a moça só escuta!
        [] Latão: acho que este será o marido, pelo que se decorre!
        [] Escudeiro: bem, eu... Moço, o que está fazendo?
        [] Moço: o que mandas, senhor?
        [] Escudeiro: venha aqui, já!
        [] Moço: Para quê?
        [] Escudeiro: Ora! Para servir minhas ordens!
        [] Moço: Ah sim, claro...
        [] Moço (para si mesmo): o diabo me pregou uma prenda! Deixei de servir a um homem de bem, para servir a um imprudente!
        [] Escudeiro: Fui dispensar um bom rapaz para contratar esse tolo!Moço!
        [] Moço: Sim, meu senhor
        [] Escudeiro: traga minha viola!
        [] Moço (ao escudeiro): Aqui meu senhor, já está afinada, não precisa se preocupar!
        [] Mãe: até imagino, Inês, que entrarás no paraíso!
        [] Inês: qual o problema?
        Escudeiro toca uma musica romântica.
        [] Vidal: Moça, não deixe esta oportunidade fugir de tuas mãos! Escudeiro, músico, conhecedor das coisas, galante, ao seu dispor, pronto para te amar
        [] Mãe: Quero rir, com toda a tristeza, Destes seus casamenteiros, dois sem-vergonha, trambiqueiros.
        [] Latão: Senhora, cale-se! Cuidado! Ninguém poderá conter o que for determinado por Deus!
        [] Mãe: Inês, não seja tola! Quer um escudeiro sem posses?
        [] Inês: Em nome de todos os Santos! Chega de se meter nos meus assuntos!
        [Lucas V.] Escudeiro: Dê essa mão, minha senhora. É de sua vontade?
        [] Inês: é sim, não é Mãe?!
        [] Escudeiro: Muito bem! Recebo você, quem olhar além! Em nome de Deus, assim seja! Eu, Brás da Mata, escudeiro, Aceito sua mão, Inês Pereira, Por esposa e por parceira, Como dita a Santa Igreja.
        [Juliana] Inês: Eu aqui, diante de Deus, Inês Pereira, aceito você... Brás da... Mata, certo? Como manda a Santa Igreja.
        Os judeus casamenteiros juntos dizem: Pelo Deus de Abraão, Isaac e Jacó, está cumprido este matrimônio!
        [] Vidal: agora, nos paguem o combinado.
        [] Mãe: Valha-me Deus! Amanhã! Que desespero!
        [] Escudeiro: Ora! Estou... Casado
        [] Inês:  arrependeu-se?
        [] Escudeiro: nem me fale, que casar é um cativeiro.
        [] Mãe: Fica com Deus minha filha! A minha bênção já tem. E o senhor, cuide dela como eu sempre fiz!
        A mãe de Inês sai, e fica Inês e o escudeiro. Ao cuidar da casa, Inês canta:
        [] Inês: Vida de Inês é difícil... É difícil ser Inês... Mas agora, casada...
        O escudeiro, vendo Inês cantando, a repreende bruscamente:
        [] Escudeiro: Você cantou, Inês? Espero que tenha sido a primeira e a última vez! Seu eu a ouvir cantar novamente, nem assobiar você conseguirá!
        [] Inês: Por quê ficaste tão bravo, marido?
        [] Escudeiro: ainda perguntas? Mulher minha tem que ficar calada! Não vai falar com ninguém, não poderás ir a igreja, nem ir a janela. Ficará trancada e isolada nessa casa!
        [] Inês: Qual foi o meu pecado, marido?
        [] Escudeiro: não há outro jeito se não esse minha querida!
        [] Escudeiro (para o moço): Vou para guerra na África, vou promovido a cavaleiro, cuide para que Inês não saia daqui.
        [] Moço: E o que hei de comer?
        [] Escudeiro: e o que lhe dei? Não basta?
        [] Moço:  e depois que acabar o dinheiro?
        [] Escudeiro: Aqui por perto tem umas figueiras, esfomeado, mata tua fome!
        [] Moço: Ah, sim!
        Sai o escudeiro, e o moço diz a inês:
        [] Moço: O que ele me ordenou não tenho coragem de fazer.
        [] Inês: se ele te dá ao menos o que comer, sua praga será cumprir esta tarefa.
        [] Moço: Eu vou me divertir, e você vai ficar aqui trancada.
        [] Gil Vicente: Três meses depois...
        [] Inês: Quem bem tem e mal escolhe, por mais mal que venha, não se encolhe.
        [] Inês: Fui escolher demais, e deu nisso! Espero que os mouros o matem! Sei hei de ficar solteira, saberei escolher desta vez!
        Chega o moço, com uma carta de Arzila, dizendo:
        [] Moço: esta carta vem da África, deve ser de meu senhor.
        [Juliana] Inês: me dê essa carta, se for de meu marido, saberei agora.
        Ela lê o que está inscrito no envelope
        [] Inês: É de meu irmão! Vamos ver o que se explica.
        Inês lê a resto da carta (e para no 4º verso, dizendo: (Aqui vocês devem ser criativos e improvisar na carta conforme o contexto da história)
        [] Inês: Ora, que é isso?
        Continuou a leitura
        Recebendo a trágica notícia, o moço se espanta e diz:
        [] Moço: Não! Meu Senhor!
        [] Inês: Tome esta chave e faça o que quiser de sua vida!
        [] Moço: Oh! Que triste despedida!
        [] Inês:  Veja! Se passava por homenzarrão, mentindo para todos. Quero agora um novo rumo: quero marido manso, ingênuo, para ser livre!
        Ao ver Lianor vaz, Inês Finge seu choro. Lianor pergunta:
        [] Lianor: como estás, Inês?
        [] Inês: Muito triste.
        [] Lianor: ao menos tivesses engravidado...
        [] Inês: não tive essa sorte...
        [] Lianor: Filha, não chores pelo leite derramado, casa-se outra vez!
        [] Inês: Meu Deus! Estou sozinha! Isso é coisa que se diga, sem-sentido!
        [] Lianor: Esqueça do passado... Pero Marques parece que herdou boa quantia de dinheiro!
        [] Inês: Basta! Agora sim! Se herdou ou não, já aprendi a lição! O chame!
        Sai Lianor Vaz atrás de Pero Marques. E Inês fica sozinha, logo dizendo:
        [] Inês: se é para ser Pero Marques, que seja! Marido bondoso e inocente, que faça minhas vontades. Antes lebre que leão...
        Vem Lianor Vaz juntamente de Pero Marques. Diz Lianor Vaz:
        [] Lianor: Sem cerimônia, abrace-a  e a faça sua mulher.
        [] Pero Marques: Estou atrapalhado! Só irei abraça-la após se casarmos, caso ela aceite...
        [] Inês (irônica): sim, aceito...
        [] Lianor: Ora! Me dê sua mão. Sabe as palavras, não sabe?
        [] Pero: ensinaram-me, mas... Esqueci! Estou nervoso!
        [] Lianor: por Deus! Repita o que digo...
        [] Pero: Bom, você se casa comigo, e eu me caso com você, por Deus. E me decepem as orelhas, caso negue algo a você!
        [] Lianor: já vou, Fique com Deus.
        E sai Lianor Vaz. Diz Inês Pereira:
        [] Inês: Marido, vou sair.
        [] Pero: sim, vá se divertir, acho que também irei.
        [] Inês: Escutes marido, irei para onde EU quiser, certo?
        [] Pero: Mas é claro! Vá onde quiser, volte quando quiser... Com o que me preocuparei?
        Vem um Ermitão pedindo esmola. Vem a dizer:
        [] Ermitão: Senhores, por caridade, dê uma esmola a um pobre e por amor ferido, Ermitão de Cupido, desde sempre só! Os que vão bem de amores dão esmola àquele sem esperança, que habita a escuridão com suas dores, e rezarei com grande devoção e fé, que Deus os livre do engano; Pois, por isso sou o Ermitão, E por todo o sempre eu serei. Pois você, que sabe quem é, sabe do meu triste sonho.
        [] Inês: Escuta marido, por caridade, deixe-me dar esmola a um ermitão!
        [] Pero: Pode ir mulher, não tenho nada a fazer lá.
        [] Inês: tome esta... Esmola, por caridade.
        [] Ermitão: Seja pelo amor de mim, sua boa caridade tenha graças, minha bela senhora, sua esmola mata o pecado; Deve saber, senhora, o que me fez fazer, tornei-me um Ermitão, faltando pedaços do coração, com o que você deixou de dizer.
        [] Inês: Meu Deus, é você! Aquele que um dia foi meu namorado, que me mandou uma florzinha, quando era pequenina!
        [] Ermitão: Tanto quis teu bem, bela donzela, e comigo, nada quisestes, porém, ainda lhe amo!
        [] Inês: Eu o entendo! Não se aborreças que irei lhe fazer uma... Visita.
        [] Ermitão: E quando será isso?
        [] Inês: não muito tarde, agora vá!
        [] Inês (para si mesma): Aquele ermitão... É um anjinho!
        [] Pero: Como és bondosa, minha esposa!
        [] Inês: Sabe o que desejo marido?
        [] Pero: O que?
        [] Inês: Que fôssemos andando até o templo onde encontra-se o Ermitão!
        [] Pero: Claro, não vejo empecilho!
        [] Inês: Muito bem, passemos primeiro pelo rio. Tire seus sapatos.
        [] Pero: como?
        [] Inês: Vai me carregar nas costas, para não sentir a água fria em meus pés!
        Pero coloca Inês em suas costas, que diz:
        [] Pero: Estás confortada?
        [] Inês: como se estivesse no Paraíso! Olhe! Que lindas pedras! Carregue para mim marido?
        [] Pero: como quiser.
        [] Inês: Vamos cantar?
        [] Pero: mas não sei...
        [] Inês: não tem problema! Eu canto e você apenas repete: “Pois assim acontecem as coisas.”
        [] Pero: Como quiser!
        Canta Inês Pereira:
        [] Inês: Marido como um búfalo me carrega, com mais dois pedaços de pedra.
        [] Pero: Pois assim devem ser as coisas.
        [] Inês: Sempre soube você, meu marido, eu o amo como sois; Sempre fostes a mim preparado a pertencer como um lote de bois.  
        [] Pero: Pois assim acontecem as coisas.
        [] Inês: Bem sabe você, meu marido, quanto eu a ti... Quero; Sempre foi percebido, a ser um manso e chifrudo cervo. Além disso, tornou-se o burro que me carrega. Levando a mim e dois pedaços de pedra.
        [] Pero: Pois assim acontecem as coisas.
        [] Gil Vicente: e assim termina esse auto. Com mote “Mas vale um burro que me carregue do que um cavalo que me derrube”. P-E-R-F-E-I-T-O, já é meia noite e meia escrevi durante a noite toda, mas escrever vale a pena. Ahh [beijando o livro] Boa noite.