Estive fazendo uma busca para aliviá-los em relação aos aspectos que efetivamente importam durante o processo de produção textual, ou seja, a redação do vestibular.
Abaixo, fragmentos importantes da Revista Diálogos Pedagógicos publicada pela UEL sobre diversos critérios interessantes que poderão auxiliá-los nessa caminhada.
Boa leitura!
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Um dos pontos fundamentais que orienta a elaboração dos critérios de análise e avaliação dos textos produzidos pelos candidatos é representado pela preocupação em se levar em conta o conhecimento que o sujeito demonstra sobre a língua em seu funcionamento.
O candidato então, em nossa compreensão, deve ser avaliado como um sujeito de escrita e de leitura. Para a educação dos dias de hoje, em que uma intensa discussão toma corpo no sentido de buscar o desenvolvimento dos conhecimentos, as capacidades de ler e de expressar-se por escrito, principalmente, figuram com destaque na lista de prioridades. A produção de um texto obedece a uma sequência de etapas nas quais se produzem formas, de início provisórias, que mais tarde vão recebendo modificações, até o momento em que se tornam uma frase, um período, um parágrafo, uma composição completa. Apontam essas formas, por outro lado, para o caráter social de toda experiência de produção comunicativa e do conteúdo de aprendizagem que esta implica.
A escrita é uma atividade especial na qual se insere uma complexidade que não está somente no interior do texto: ela provém do ambiente e das relações interpessoais. O texto escrito, pelas próprias especificidades de sua composição, possui um grau de abstração muito grande, fruto de raciocínio intenso em si mesmo, exercitado na e pela linguagem. A escrita eficaz está intimamente ligada à capacidade de pensar, de raciocinar, de dar vazão à criatividade por meio da renovação de relações, alternância de elementos e criação de novas formas de expressão. As duas práticas que garantem essa capacidade residem no hábito de ler e de escrever com frequência.
Como resultado de tais práticas, o produtor do texto vai internalizar, em condições naturais, as regras de estruturação textual que incluem os saberes: introduzir, desenvolver e concluir um assunto, marcando sua subjetividade; identificar quando deve mudar de parágrafo; instaurar no discurso as categorias de pessoa, tempo e espaço adequadamente; utilizar–se dos mecanismos discursivos de modo consciente, dentre outros procedimentos.
No Vestibular da UEL, os critérios de avaliação utilizados para a atribuição de notas consideram, basicamente, os seguintes aspectos na organização dos textos produzidos pelos candidatos:
• Informatividade (tanto no que se refere ao grau de informatividade quanto à sua organização e relevância).
• Argumentos apropriados, convincentes e válidos.
• Coerência e garantia da unidade de sentido pelos elementos da estrutura textual.
• Articulação dos enunciados e estabelecimento das relações de sentido a partir dos elementos de coesão.
• Domínio das organizações discursivas (instalação adequada no discurso de pessoa, tempo, espaço).
• Análise e criticidade no tratamento das ideias apresentadas.
• Estrutura do texto (demarcar implicitamente a introdução, o desenvolvimento e a conclusão utilizando elementos
linguísticos que estabeleçam relações de início, meio e fim).
• Originalidade.
• Observância da ordem sintática.
• Atenção à modalidade (oral ou escrita) adequada ao texto.
• Ortografia e pontuação.
• Demais normas gramaticais, como regência, concordância, sintaxe, flexão verbal etc.
É importante salientar que os textos produzidos pelos candidatos ao Vestibular da UEL apresentam uma variação de
qualidade de um processo seletivo para outro.
Os textos que aqui serão analisados referem-se ao Vestibular 2011. A avaliação foi feita, assim, dentro do parâmetro apresentado pelos candidatos em tal processo seletivo.
Análise de provas de redação – Texto dissertativo
TEMA 1
SER INTELIGENTE SAIU DE MODA
“Nada mais brega do que bancar
o inteligente”, afirmam, sem nenhuma vergonha, muitos estudantes
ingleses a seus boquiabertos professores. Diante do fato, alguns dos mais
brilhantes catedráticos decidiram se reunir na tentativa de explicar o
fenômeno. Resultado? Se ainda não foi banido pelos professores, o
adjetivo clever (inteligente) está muito perto disso. Decidiu-se inclusive
que, daqui por diante, será preciso tomar cuidado antes de chamar de
inteligentes os melhores alunos. Porque, segundo uma pesquisa, são exatamente
os melhores da turma os que mais correm risco de cair na prática do bullying
(assédio físico ou psicológico aos colegas) para tentar se livrar da pecha de
chatos. Os professores estão convencidos de que os estudantes, após serem
definidos como “inteligentes”, se sentem de algum modo marcados. E por isso
reagem adversamente. Provas disso? Em numerosos casos, muitos deles se recusam
inclusive a retirar os prêmios escolares que ganharam por medo de serem
ridicularizados pelos colegas.
Existe, no entanto, um outro aspecto mais sociológico, ligado ao
desenvolvimento de uma sociedade tipicamente consumista que se agarra aos
“mitos” do espetáculo e das celebridades do momento. Ou seja, não mais os
grandes escritores e compositores, os cientistas e filósofos, não mais os
grandes empreendedores constituem os padrões de sucesso e de afirmação social a
serem perseguidos. A culpa deve ser atribuída, sobretudo, aos atuais modelos e
cânones de celebridade que contribuem para bloquear os jovens, afastando-os do
sucesso acadêmico. Cita-se, por exemplo, um self-made-man como Alan Sugar,
popularmente conhecido como “Barão Sugar”, empresário britânico, conhecidíssimo
personagem da mídia e consultor político. Nascido de família humilde, ele é
hoje dono de uma fortuna estimada em US$ 1,2 bilhão. A exemplo de outros homens
e mulheres de sucesso contemporâneos, Sugar não costuma ler livros e gosta de
se vangloriar das notas baixas que alcançou na escola. Não menos deprimente foi
o panorama desenhado por Ann Nuckley, administradora escolar em Southwark,
bairro no sul de Londres. Segundo ela, os estudantes preferem adotar como
modelo as celebridades do momento que transitam pelas revistas de fofoca social
ou as que analisam nos mínimos detalhes a gloriosa existência do último garotão
que, da noite para o dia, saiu do anonimato para a luz do estrelato graças a um
papel na novela da televisão.
Com base na reportagem, redija um texto dissertativo-argumentativo, indicando as razões dessa perigosa inversão de valores que caracteriza nosso momento histórico, no qual os grandes são esquecidos e desprezados e os medíocres são elevados ao olimpo dos deuses de curta duração.
Exemplo de texto acima da média (Clique na imagem para vê-la maior)
COMENTÁRIOS
No caso do texto dissertativo, esperava-se que, ao ler o trecho adaptado de um artigo publicado na revista Planeta (out/2010), o candidato se sentisse motivado a tecer argumentos sobre a inversão de valores de nosso momento histórico, em que “ser inteligente saiu de moda”.
Neste sentido, o autor do texto demonstra habilidade suficiente para a produção escrita e uma habilidosa capacidade argumentativa, ao se colocar na posição de um jovem motivado a comentar a inversão de valores na sociedade brasileira contemporânea.
O autor demonstra domínio linguístico e conhecimento de estruturação textual no que diz respeito a: introduzir, desenvolver e concluir um assunto. A sua produção apresenta argumentos convincentes, sem distorções semânticas que comprometam a informatividade.
Em termos gerais, o texto teria de ser baseado na comparação; neste caso, o autor leva em conta a apresentação de valores relativamente estáveis e aponta para a possibilidade de mudanças significativas. Isso pode ser exemplificado pelos argumentos desenvolvidos entre as linhas 06 e 15, onde o candidato expõe os motivos pelos quais considera que as pessoas são escravizadas pelo “marketing capitalista”.
Um outro aspecto dessa redação que deve ser ressaltado é a capacidade do candidato de produzir seu texto com a preocupação de apontar soluções para a superação dos problemas diagnosticados: salienta-se, por exemplo, o que o autor diz, entre as linhas 16 e 20, sobre “estigmas”, “perpetuação de valores”, “harmonia social”, “academicismo”, ou seja, o fio argumentativo do texto desenvolve-se de maneira natural e cuidadosa.
Outro fator que também enriquece esta redação é o uso da estratégia da intertextualidade, isto é, a utilização de um discurso já produzido anteriormente e que faz parte de nossa memória social. O mito de Narciso, empregado pelo autor para embasar os seus argumentos foi adequado, demonstrando conhecimento de mundo e senso de oportunidade no aproveitamento do tema.
O título da redação vai ao encontro da temática proposta e permite delinear o desenvolvimento do assunto de maneira adequada.
O candidato, além de possuir um vocabulário bastante rico, construiu sua redação com pleno domínio das normas gramaticais, em um texto em que o encadeamento lógico das ideias e a coesão argumentativa destacam-se para garantir a clareza e a coerência textuais.
Referência:
UEL - 2011. Revista Diálogos Pedagógicos - Vestibular 2011. A UEL comenta suas provas. Vol. 3/2011. Disponível em: <http://www.cops.uel.br/vestibular/2011/RevistaDialogosPedagogicos.pdf>.